domingo, 3 de agosto de 2014

Rubinho é mais feliz que nós

(Foto: Bruno Terrena)
Hoje foi um dia movimentado para os fãs de automobilismo. Aconteceu a Corrida do Milhão, etapa mais importante do campeonato mais importante do Brasil. Se você acordou antes do meio-dia, já deve saber o resultado da disputa: Rubens Barrichello venceu sua primeira corrida na Stock Car. A cereja do bolo foi uma disputa insana entre o quarentão e Thiago Camilo, que mostrou muito mais ritmo ao longo dos cinquenta minutos, mas não soube transformar a vantagem em um milhão de reais.

É a primeira vitória de Rubens desde o GP da Itália em 2009, ainda nos dias de Brawn GP. Desde então, foram dias amenos numa Williams decadente, um ano como coadjuvante nos Estados Unidos e mais um tempo meia-boca na Stock Car. Era um rumo aceitável para alguém que já não é nenhum rapaz e que se preocupa mais com o crescimento e sucesso dos seus filhos. Ninguém poderia cobrar muito dele, ele estava se divertindo com aquilo que faz desde os anos 80. Hoje, todavia, Barrichello foi capaz de surpreender.

O que vimos foi uma alma sendo lavada. Não que Rubens ainda tivesse que provar algo para nós, mas se imaginava que ele seria mais vencedor na Stock. Temos essa imagem de que a categoria nacional é fraca, amadora e que qualquer um com experiência na Europa poderia vencer com três pneus. Ainda mais alguém que tem quase vinte anos de F1 no currículo.

Só gente ruim
Bem, não é tão fácil assim. Não mesmo. A Stock Car tem pilotos que poderiam ser bem sucedidos em muitos outros campeonatos de turismo no mundo. Pizzonia, Zonta e Burti já estiveram na F1; Maurício, Wilson, Suzuki e Bia Figueiredo tiveram sucesso no exterior; Cacá e Popó Bueno, Camilo, Serra e Abreu são nomes tradicionais do automobilismo brasileiro; Nunes, Foresti e Fraga são jovens que, infelizmente, não conseguiram bancar uma carreira mais longeva na Europa. Todos são pilotos com potencial, para fazer o público engolir o preconceito com o certame.

Ver um cara com 42 anos como o Rubinho bater de frente com esse povo todo não é pouca coisa. Sendo mais rápido que gente com metade de sua idade, que não era nem viva quando ele corria pela Jordan. Quase como se o tempo não passasse para Barrichello. E ainda assim tem gente que o vê de forma pejorativa

E esse jeito de ver o Rubinho vai muito além. Qualquer brasileiro sabe do que eu estou falando. Rubinho sempre chega em segundo. Rubinho deixa os outros vencerem. Rubinho sempre inventa desculpa. Rubinho é chorão. Rubinho é uma pessoal mal resolvida. Rubinho é frustrado.

Uma pessoa frustrada e infeliz
Sim, claro. Barrichello tem 42 anos e não pensa em se aposentar: faz a mesma coisa há trinta anos e não cansou nem se aborreceu. Teve a oportunidade de pilotar os melhores bólidos da história da Ferrari. Venceu onze GPs, disputou mais de trezentos, um recorde. Não foi campeão quando teve carro para isso (2000-2004), assim como os péssimos (cof cof) Coulthard e Montoya - assim como todos naqueles anos, derrotados por Schumacher. Tem dois filhos que se dão muito bem com o pai. Tem milhões na conta bancária - número que hoje mesmo cresceu mais um pouco.

Eu não tenho a menor dúvida de que ele é mais feliz que eu. Mais que você, também. E bem sucedido. Não porque sua vida, leitor, é uma merda ou algo assim, mas porque a dele é muito boa - e ele deve estar cagando e andando para as piadinhas e brincadeiras. Na posição dele, eu estaria.

Você pode continuar achando ele um derrotado por qualquer motivo que seja. Azar. Se eu pudesse, trocaria de lugar com ele sem pensar duas vezes. E você provavelmente também. Hoje, em especial, Rubinho é uma das pessoas mais felizes do mundo.

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