terça-feira, 5 de agosto de 2014

O preço da liberdade


Bernie Ecclestone conseguiu se livrar de uma grande encrenca. Arranjou um acordo com a Corte de Munique, ao pagar módicos US$ 100 milhões, garantindo sua liberdade e inocência. Assim, o inglês mantém sua influência e poder dentro da F1 pelo tempo que der e quiser. É o fim da novela sobre suborno, um processo que vem se arrastando ao longo dos últimos anos.

A história é a seguinte: Ecclestone subornou Gerhard Gribkowski, visando facilitar um processo de venda de ações da F1. Bernie preferia que o grupo CVC fosse escolhido e o pagamento ao banqueiro, ilegal, foi a garantia para que o negócio fosse fechado. Para alguém que viveu em um mundo de dinheiro e poder, uma graninha aqui e outra acolá não fariam diferença nenhuma. É o mundinho do chefão. Quem não gostou muito disso foi a justiça alemã quando descobriu a função.

Não deixa de ser curioso que um pagamento tenha servido para garantir liberdade a Bernie, praticamente o mesmo processo que o levou aos tribunais, mas agora dentro da lei e correto. Uma vez mais, o dinheiro foi a base de seu sucesso - seja na venda de ações, seja no tribunal. Não me atrevo a discutir a decisão da corte, não tenho a base jurídica para abordar o caso, mas soa estranho que a sua inocência tenha sido garantida através do método mencionado. Ainda mais se considerarmos que Gribkoswki já foi julgado e está cumprindo pena por corrupção. Como se só um lado da moeda tivesse sido punido.

Bernie says: "think before you bribe"
Bem, nós não temos motivos para nos surpreender. Bernie sempre agiu desse jeito, todo o seu poder não é por acaso. O homem forte dentro desse mundo mesquinho da F1 tem que saber como jogar - e ganhar - o jogo. Mas não deixa de manchar a imagem do esporte e da entidade, trazendo assuntos particulares da administração da Formula One Management (FOM), à grande mídia. Além de fazer pensarmos que todos lá dentro são assim... oh, wait.

Podemos achar o baixinho um grande canalha, responsável por tudo de ruim que acontece com a categoria, mas ele não dá muita bola. É muito mais fácil para Bernie viver em um mundo a parte - em que redes sociais são uma "moda passageira" e relargadas paradas após safety-car são uma boa ideia - do que encarar a realidade de que a F1, mais do que um negócio, é um esporte e não envolve suborno e negociatas. Pelo menos deveria ser assim.

Não quero entrar no senso comum de dizer que no começo não era uma categoria cara. Claro que era, mas em outros níveis: para competir, você podia gastar muita grana construindo um bólido ou comprando um. Para os níveis quase amadores dos anos 50 e 60, era bastante. A F1 amadureceu, profissionalizou e virou o que é hoje: um lugar onde gastar milhões é normal.

Quatro Rodas de fevereiro de 1977. Não é de hoje.
Não acho que esse seja o maior problema (apesar de concordar que os custos atuais estão fora da realidade), o ponto é que todo esse dinheiro passa de mão em mão de maneiras que eu não me atreveria a imaginar. As relações entre as equipes e a FOM - e Bernie, por tabela - tendem ao obscuro, ao errado. A história da propina pode ser só parte de um universo muito maior que talvez nós nunca conheceremos.

Para nós pode soar absurdo pagar milhões para seduzir e mudar as opiniões de alguém, mas para Bernie esse uso e ciclo de dinheiro é normal. Ele faz isso desde quando assumiu a Brabham, lá no começo dos anos 70. Não é certo, mas é o real, corriqueiro.

Ver o inglês conseguindo comprar sua liberdade é o irreal, ainda. Mas faz parte da sua vida. Uma pena, se lembrarmos que uma pessoa tão duvidosa tem o nosso esporte favorito na palma da mão.

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