quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A trágica última corrida da vida de Denny Hulme

Denny Hulme é um caso curioso de piloto de F1. Sempre longe dos holofotes do automobilismo, é normalmente esquecido quando tentamos lembrar, de cabeça, campeões do mundo. "Em '65 foi Jim Clark; '66 foi Jack Brabham; '67... esqueci". É triste, na verdade, porque a história desse cara daria um livro dos bons. Como não sou biógrafo de ninguém, não vou falar sobre os rumos da vida de Hulme. Para evitar que esse blog vire uma bílbia digital vou falar dos rumos da morte, bem mais efêmeros e igualmente atrativos.

Após se aposentar da F1, Hulme queria continuar envolvido com as corridas. A solução encontrada foi chefiar a GPDA - Grand Prix Drivers Association - mas o resultado não foi dos melhores. Denny era meio low profile e um grande cavalheiro, duas características que, infelizmente, não compactuavam com um posto que exigia pulso firme e decisões eficazes frentes as várias mortes no automobilismo dos anos '70. No seu lugar, entrou Jody Scheckter. O tédio voltou a incomodar o Neozelandês, que vivia com a família, nos confins da Oceania. A vontade de competir outra vez era muito grande, ainda mais depois de disputar um endurance com Stirling Moss. O desejo voltou com tudo.
A primeira - e gloriosa - carreira de Hulme
O ano da volta foi 1982. Denny arranjou um Holden V8 para disputar corridas extra campeonato do que hoje conhecemos como V8 Supercars. O problema era que os outros pilotos eram, na grande maioria, amadores. O nível técnico, mesmo para um senhor de quase 50 anos, era baixo. O que importava mesmo era a Europa. E lá foi Hulme de volta às terras estrangeiras, em 1986.

O campeonato que Hulme ia disputar era o European Touring Car Championship - ETCC - que não era um mar de talentos, mas já era melhor que tudo daquele coisa isolada chamada Oceania. A equipe que iria o abrigar era a Tom Walkinshaw Racing (sim, daquele mesmo cara da Arrows). Os resultados não eram dos melhores, mas algumas vitórias apareceram. A maior delas foi no RAC Tourist Trophy, em 1986. Fora isso, pouca coisa realmente digna de nota. Hulme seguia se divertindo na Europa e apadrinhava campeonatos na Nova Zelândia. A única vez que ele realmente corria lá era na corrida mais esperada da Oceania: a Bathurst 1000, corrida preferida de Denny. Tudo sempre seguiu como o planejado: diversão, mas sem grandes triunfos. Enfim, sair feliz. O problema é quando ele não saia.

Em 1992, Denny foi convidado para correr com a Benson & Hedges Racing, com quem já tinha corrido na Europa. Seu parceiro era Paul Morris, piloto de ponta da terra dos Cangurus. O carro, #20, era um BMW M3 laranja. Muito bonito, por sinal.
A segunda - e trágica - carreira de Hulme
No Domingo da corrida, a chuva forte foi um inconveniente para os pilotos, ainda mais em um circuito difícil como Bathurst. O #20 não vinha tendo o melhor desempenho do mundo, ficando bem atrás dos ponteiros. Após umas 30 voltas, Hulme fala com a equipe no rádio: "não estou me sentindo muito bem". A equipe disse para ele tentar continuar. "Minha visão está embaçada". Acreditou - se que fosse por causa da chuva, então o time não deu muita bola. Na volta 32, o pior aconteceu: um ataque cardíaco fulminante acabou com a corrida de Hulme. Foda-se a corrida. Acabou com a vida de Hulme. Sem controle do carro e a quase 250km/h, o BMW foi batendo nos muros laterais até que o peso do Neozelandês caísse em cima do freio, não muito diferente do que aconteceu com Massa em 2009. Quando o carro parou e os médicos chegaram, não havia muito para ser feito. Foi de helicóptero para o hospital, onde foi declarado morto, num diagnóstico bem fácil de ser feito. Primeiro campeão mundial com uma morte natural.

Morria o campeão esquecido, e do mesmo jeito que viveu e correu: de fininho, com timidez, sem ninguém perceber, pegando as pessoas de surpresa. Uma grande perda, mesmo que meio incompreendida.

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