segunda-feira, 14 de julho de 2014

Trulli, 40 anos


Ontem, 13/07, foi aniversário de um dos maiores ícones da F1 nos anos 2000. Jarno Trulli, também conhecido como chicane ambulante, nunca logrou muito sucesso, mas sempre estava lá. Pontuava, ia ao pódio, fazia seu serviço com mais dignidade que muitos. Não é por acaso que alguém larga 252 vezes, sendo o sexto piloto com mais GPs na história da categoria.

São 40 anos de Trulli, natural de Pescara e último piloto italiano da F1. Como 40 é um número marcante, a forma deste blog homenagear Jarno é dividindo a vida dele em quatro partes e citando quatro pontos chave de cada. Eu não sei qual o significado numerológico do número 4, mas faz algum sentido. Falemos do aniversariante, pois.

O começo

Trulli não era exatamente alguém muito importante em 1995. Tinha feito um bom ano de estreia na F3 alemã, além de algumas corridas esporádicas nas F3 italiana e inglesa. Mas isso não lhe dava muitos créditos na hora de disputar o seu primeiro GP de Macau, corrida mais tradicional do automobilismo de base. Por mais futuro que ele tivesse, era apenas um entre muitos.

Mas ele logo tratou de chamar a atenção. No treino, se classificou em segundo, apenas atrás de Ralf Schumacher, que já tinha disputado a corrida em 1994 e tinha mais experiência. Na própria F3 eles já tinham se enfrentado diversas vezes. Num grid com 30 pilotos, largar na primeira fila em um circuito de rua é decisivo.

Mas Jarno foi além: tomou a liderança logo nas primeiras curvas. Num momento de rara agressividade, começou a zigue-zaguear para evitar que Schumacher pegasse seu vácuo e revertesse a manobra. Após, caos.

youtube.com/watch?v=McybGNbAmnI
Exceção feita aos três ponteiros, ninguém mais conseguiu seguir adiante. Um acidente de maiores proporções, presente de Norberto Fontana, foi suficiente para bloquear as estreitas ruas de Macau. Bandeira vermelha, obviamente.

A primeira largada foi anulada e Trulli teria que tentar tomar a liderança outra vez. Outra vez ele larga melhor que Schumacher, mas o alemão faz uma excelente manobra por fora que o garante a ponta da corrida, para não mais perder. Poucas voltas depois, um acidente envolvendo Hélio Castroneves trouxe outra bandeira vermelha. Como já estava anoitecendo, não teve mais corrida. Poderia ser uma corrida mais feliz para Jarno, mas ficou de bom tamanho para a primeira vez em Macau. Ele retornaria em 1996, terminando em terceiro.


A ascensão

Em 1999 Trulli já tinha dois anos de F1 no currículo e vinha para sua terceira temporada com a Prost, uma barca que todos suspeitavam que era furada, mas ninguém admitia. Seria mais um ano de alguns parcos pontos. Isso até o GP da Europa.

Trulli fechou o treino oficial em décimo lugar, cinco atrás de Panis, companheiro de equipe. Mesmo perdendo para sua referência, era bem melhor que a média da equipe. Com sorte, daria para brigar por umas migalhas.

Um carro lindo
Mas não parecia ser um dia muito bom, a princípio. Trulli perdeu duas posições na largada, se estabelecendo em 12o, enquanto Pedro Paulo Diniz era retirado da pista depois de um acidente feio. Emperrado no meio do grid, seria um dia meio difícil, mas o acaso ajudou.

Começou a chover no meio da corrida. Hakkinen, Panis, Salo, Villeneuve e Irvine foram aos boxes, uma decisão errada, já que o toró parou logo em seguida. Trulli ainda ultrapassou Alesi, alcançando a sexta posição! Pontos!

E só melhorava: Frentzen, líder da prova, abandonou. Nesse momento, a chuva tinha voltado com mais força, e muitos foram aos boxes - Coulthard, novo ponteiro, não foi. Rodou sozinho e abandonou. Só nisso, Trulli já era quarto e ameaçava um pódio.

E não parava aí: Fisichella, novo líder, também perdeu o controle do carro e deu tchau ao que seria sua primeira vitória. Ralf Schumacher assumiu a ponta, mas não por muito tempo, já que um furo no pneu o tirou de qualquer disputa. O pódio era, já perto do fim, Hebert, Trulli e Barrichello. Todos bastante próximos e com a pista já secando. O inglês abria vantagem, enquanto o italiano segurava o brasileiro.

E isso Trulli sabe fazer bem. O famoso Trulli train, essa habilidade de segurar três, cinco carros por quantas voltas fossem necessárias. Se segurou e deu à equipe de Alain Prost seu último pódio, num ano não muito frutífero - assim como os subsequentes.

Rara felicidade
O ápice

2004 foi um ano bem chato. Após toda a tensão do campeonato de 2003, foi uma decepção. A Ferrari caprichou e Michael Schumacher estava no seu auge, sem cometer alguns erros que quase o custaram seu sexto título.

Não estava nem dando graça. Schumi venceu as cinco primeiras corridas do ano. Mônaco é uma pista que premia os carros mais equilibrados e os pilotos mais calmos e minimalistas. O alemão era tudo isso. Mas não fez a pole, gloria essa que coube a... Jarno Trulli?  Mesmo Alonso, seu companheiro que sempre era mais rápido, largava em terceiro. Michael só em quarto.

Na largada, festa da Renault. Alonso passou Button, enquanto Trulli mantinha a ponta. Michael, maior temor, largou mal e caiu para sexto. É difícil passar em Mônaco, mas ele tentaria dar um jeito. Seu carro era muito melhor, vale lembrar.

Que dia, amigos

Na volta 19, Schumi já era terceiro e vinha tentando diminuir a diferença - apesar de ter perdido muito tempo escalando o grid. Era um trabalho difícil, as Renaults estavam num dia realmente especial. Mas a vida, essa caixinha de surpresas...

Ralf Schumacher, retardatário, não facilitou a ultrapassagem de Alonso no túnel. Fernando foi para a sujeira, perdeu o carro e encontrou o muro. Safety-car. Trulli vai aos boxes; Michael Schumacher não, assumindo a ponta. Só que o alemão fez uma grande cagada.

Ele estava muito rápido quando alcançou o Safety-car, dentro do mesmo túnel que acidentou Alonso. Fritou os pneus e puxou para a direita para evitar o choque, mas Montoya vinha logo atrás e não notou os problemas de Schumi. Os dois tocaram rodas, a Ferrari se descontrolou e achou o mesmo muro do outro acidente. Com isso, Button assumia a segunda posição e ficava colado em Trulli, outra vez em primeiro. Ainda faltavam trinta voltas.

Mas Trulli segurou do jeito que deu. Contou até com a ajuda de Baumgartner, retardatário, que acabou atrapalhando Button, evitando qualquer tentativa de ultrapassagem da BAR. Jarno vencia uma corrida, mas quis o destino que fosse a última. E antes do fim do ano seria demitido da Renault, partindo para novos tempos na Toyota.

A primeira e última vez
A decadência

O ano é 2012. Trulli é piloto da Lotus-Renault, agora conhecida como Caterham. Foram dois anos pilotando uma carroça verde, apanhando de Heikki Kovalainen e tendo como melhores resultados três 13o lugares. Pior até do que quando pilotava uma Minardi, lá em 1997.

Pré temporada. Trulli já está bem incomodado com a estagnação da equipe, que passou dois anos em branco, sem ir a lugar nenhum. Logo no primeiro teste, o CT01 se mostra a mesma desgraça que seus antecessores. Não dá mais. Depois de uns anos relativamente bons com a Toyota, aquela decadência beirava o humilhante.

Novo carro, mesmos problemas
Trulli resolve romper o contrato. Sabia que, sem trazer dinheiro de patrocinadores, a equipe ficaria assim para sempre. Petrov é chamado e preenche a última vaga na F1 2012. Fim de linha para Jarno. É a marca de um piloto que passou dois anos chateado, aborrecido, reclamando de tudo e todos. Desistir antes da temporada começar é a cara do saco cheio. Refletiu bem o ritmo de sua carreira pós-primeira vitória.

*Bônus track - O futuro?

Não dá para incluir o futuro de Trulli na análise de sua vida e carreira - já que nem aconteceu ainda. Mas os próximos anos parecem interessantes.

F-E, vocês estão atualizados? A categoria mais promissora dos últimos tempos (não sei se sou exceção, mas a grande quantidade de ex-F1 no grid me atrai) vai contar com Jarno Trulli, o interminável, no grid. Mais do que isso: vai ser chefe da Trulli GP, equipe com apoio tecnológico da Drayson Racing.

Novos tempos
Se vai dar certo ou obter algum sucesso? É cedo para dizer. O fato de ter uma nulidade chamada Michela Cerruti (???) como companheira de equipe pode facilitar um pouco para o seu lado. Sou otimista, afinal vai ser difícil ser pior que o seu fim na F1.

Boa sorte na nova aventura e feliz aniversário, Trulli!

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