1964 foi o ano de uma das temporadas mais interessantes da história da F1. Quatro equipes diferentes - Lotus, BRM, Ferrari e Brabham - tinham condições reais de brigar por vitórias e, quem sabe, título. Todos os treinos eram muito disputados; os rendimentos, muito parecidos. Corridas só terminavam quando acabavam, porque as disputas estavam sempre em aberto.
Se você é bom em matemática, pode ter percebido que em 2014 estamos completando 50 anos da disputa desse campeonato. Mas não vou falar sobre o campeonato todo, que mais merecia um livro do que um post num blog. Falo do GP da Inglaterra de 1964, disputado no dia 11/07/1964, em Brands Hatch. Exatos 50 anos atrás. Falemos sobre, pois.
Era um fim de semana tenso, aquele. Jim Clark (Lotus) liderava o campeonato com apenas um ponto de vantagem sobre Graham Hil (BRM). Richie Ginther (BRM) vinha dez pontos atrás, passadas apenas quatro etapas do campeonato. Como os principais adversários pelo título eram britânicos, a corrida em terra natal ganhava contornos de decisão. É que o destino parecia nos reservar uma disputa de apenas dois homens, mas o futuro nos provou que não seria bem assim. A Ferrari, sempre ela, iria se recuperar ao longo do ano.
Rivais e amigos, Clark e Hill eram os expoentes do automobilismo britânico |
No treino, aconteceu o normal: Clark na pole. Hill teve que se contentar com o segundo lugar, enquanto Gurney fechava a primeira fila. Mais atrás, Brabham, Surtees e McLaren fechavam os seis primeiros no grid de largada. Aliás, 0,6s separaram os cinco primeiros do grid. Foi apertado.
No dia da corrida, uma festa. GP da Inglaterra era um dos grandes eventos do calendário, com autoridades e alguns famosos aparecendo nos paddocks. Isso não era tão comum nos anos '60, talvez só em Mônaco. Pilotos eram celebridades, mas não se comportavam como. Tinha até uma bandinha que tocava umas marchinhas no grid de largada, no melhor estilo Grand Prix.
Na corrida, Clark largou bem e segurou a ponta. O mesmo não pode ser dito sobre Hill, que perdeu a segunda posição para Gurney. Surtees toma o quarto lugar de Brabham e fica numa boa posição para brigar por um pódio. Mais atrás, Siffert, Amon e Gardner se enroscam e mal saem do grid de largada. Jo e Chris conseguem continuar, mas veem sua corrida ficar muito comprometida.
A alegria de Gurney não foi muito duradoura. O americano teve problemas na ignição que o levaram aos boxes no final da volta 3, caindo para o fim do grid, onde permaneceria até o fim da corrida. As posições de pódio se estabilizavam com Clark na frente, Hill em segundo e Surtees em terceiro. Brabham vinha colado na Ferrari, que não apresentava ritmo para acompanhar os dois ponteiros.
A Ferrari de Surtees |
Mas a outra Ferrari, de Bandini, conseguia escalar o grid sem maiores problemas. Tendo caído para sétimo na largada, Lorenzo não tardou em colar na traseira de Black Jack. A ultrapassagem foi facilitada: Brabham rodou, temeu ter danificado a suspensão e foi aos pits. Como o conserto seria inviável num curto espaço de tempo, ele voltou a pista, agora em sétimo. Mas não por muito tempo, pois o carro ainda mostrava competitividade.
Agora a corrida tinha dois pelotões importantes. A encarniçada briga pela liderança e pelo campeonato entre Clark e Hill, Lotus e BRM; a briga por um lugar no pódio entre as Ferraris de Surtees e Bandini, além de Brabham, um intruso que voltava a ganhar velocidade e posições depois do contratempo.
Clark bravamente segurou Graham Hill, que vinha mais rápido nas últimas voltas. No fim, os dois cruzaram a linha de chegada com 1m20s de vantagem sobre os demais. Demais esses que seguiam se engalfinhando até o fim: Surtees conseguiu abrir um pouco mais, mas Bandini não conseguiu acompanhar o ritmo e foi ultrapassado por Brabham. Bem mais atrás, Phil Hill conseguia a última posição dentro da zona de pontos.
Sim, foi um pódio 100% britânico em Brands Hatch. Imagina a festa.
Voltando aos boxes com estilo |
No fim das contas, essa corrida foi um ponto chave para o campeonato. Surtees venceria o GP da Alemanha, começando uma arrancada que culminaria num impensável título mundial ao fim do ano. Vale lembrar que, após essa corrida, Clark tinha 30 pontos e o piloto da Ferrari só tinha 10. Foi uma reviravolta absurda numa disputa que ficou aberta até a última volta da última corrida. O que aconteceu nessa volta fica para outro post.
Também diz muito a briga entre Hill e Clark. Os dois se matando por tudo ou nada, enquanto Surtees vinha somando pontos e sendo constante. No fim, esse pensamento fez diferença, à medida que os outros iam abandonando ao longo da temporada.
Independente de campeão, essa temporada marcou o auge da fase de ouro do automobilismo britânico, com três pilotos do país vencendo quase todas as corridas da temporada. E olha que Jackie Stewart só iria estrear em 1965...
Encerrando o post, se você curte vídeos de qualidade dessa época do automobilismo, dê play no link abaixo. Parada obrigatória.
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