A palavra de ordem na concepção do Type C foi "inovar". Mas onde, exatamente? Vou começar pelo motor, parte mais fácil de ser analisada.
O conceito visto como "certo" da época era o de motor dianteiro. As válvulas, os cilindros e a potência ainda variavam muito - como é até hoje - mas o motor sempre estava lá, junto aos pés do piloto, o que de certa forma era até perigoso (mas ninguém se importava muito com isso na época, sejamos francos). A Auto Union resolveu, através de pesquisas (que envolvem até Porsche, numa relação entre as duas marcas, mas que não será abordada aqui) passar o motor para exatamente atrás do acento do piloto, ficando na porção central do bólido e, consequentemente, distribuindo melhor o peso na máquina e facilitando outras questões técnicas ainda mal-resolvidas. Não é a toa que esse conceito passou a ser chamado de "motor central". Deu tão certo que, mais de 70 anos mais tarde, esse posicionamento deixou de ser uma opção para ser obrigatório em 99% dos carros esportivos que existem. Essa mudança toda ainda trouxe, de quebra, uma sutil queda no peso total.
A novidade do ano: motor central |
Outro ponto que também merece destaque na concepção desse carro é a suspensão. Tanto a dianteira como a traseira passaram a ter um sistema com eixo duplo, que conferiu maior dirigibilidade ao modelo. Haviam também pequenos aparatos aerodinâmicos acoplados à suspensão dianteira, gerando um efeito semelhante ao feito pelas asas dianteiras dos F1 atuais. Resultado de muitas visitas ao Instituto Alemão de Aerodinâmica.
Na pista, os principais encarregados de dirigir o Type C seriam pilotos como Bernd Rosemeyer, Hans Stuck (pai de Hans-Joachim Stuck, futuro piloto de F1) e Rudolf Hasse. A concorrência, basicamente a Mercedes e a Alfa Romeo teriam que se virar com suas versões defasadas, contra um carro que prometia bastante.
O começo do ano foi curioso: o Type C conseguia excelentes resultados... quando não tinha problemas mecânicos. Exemplos do 1o caso foram as corridas da Alemanha e da Suíça, com vitórias fáceis de Rosemeyer. Exemplos do 2o foram os GP da Tunísia e da Hungria, em que Rosemeyer teve séria queda de ritmo durante a corrida. Coincidentemente, o Auto Union de Rosemeyer não enfrentarou nenhum grande problema mecânico em nenhuma das corridas que contavam pontos, o que assegurou um título fácil para ele. Quando Bernd não ganhava, as migalhas caiam no colo da Alfa Romeo e de um força crescente, uma tal de Ferrari...
Rosemeyer vencendo: (relativamente) normal em 1936 |
Para 1938, o regulamento dos Grand Prix mudou bastante, e o Type C já não estava mais apto para correr. Feitas as mudanças, o novo bólido passou a se chamar Type D. O sucesso desse modelo nunca foi grande, mas deu para garantir o título de 1939 para Hermann Müller (de forma não oficial, tendo em vista que a 2a Guerra Mundial começou antes do fim do campeonato).
Começada a guerra, a Auto Union - e futuramente, a Audi - nunca mais participaria do que hoje conhecemos como F1. O sucesso viria no Endurance, onde venceu 12 das últimas 14 edições. Mas convenhamos que é muito mais divertido falar de Bernd Rosemeyer do que de Tom Kristensen.
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