quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Um dia no passado - A arrancada da Williams para o título que não veio


A temporada de 1994 foi única. Foi um ano de transformação e renovação, mesmo que forçada, para a F1. Após a morte do último piloto restante do quarteto Piquet-Prost-Mansell-Senna, nomes como Michael Schumacher e Mika Häkkinen viram caminho livre para brilhar na segunda metade dos anos '90. Como todos sabem, o ano acabou com manchas de sangue sobre a competição. Isso não significa que tenha sido um ano absolutamente péssimo. A briga pelo campeonato dessa temporada foi uma das mais apertadas de todas.

A Williams, depois de meses de depressão pós-Senna, via a Benetton brilhar com seu pupilo Schumacher. Foi difícil para a equipe de Frank voltar à disputa com seu piloto sobrevivente, Damon Hill, mas a capacidade do FW16 e a suspensão de Schumacher serviram para equalizar a disputa. Em Monza, 11a etapa do campeonato, podemos dizer que a disputa começou a esquentar de verdade.

Falemos sobre o 65o GP da Itália, então.

A classificação trouxe algumas surpresas. O rendimento das Benetton's foi pífio, com Verstappen segurando apenas uma 10a posição, totalmente fora do ritmo esperado de uma equipe que dominara a primeira metade do campeonato. Lá na frente, Herbert fez o melhor treino da Lotus em anos, garantindo uma quarta posição. A dobradinha da Ferrari, a exemplo de Hockenheim, veio numa pista de altíssima velocidade, que compactua com o monstruoso V12 de Maranello. Só que, dessa vez, com Alesi na frente, conquistando sua primeira pole. Damon Hill, tentando se aproveitar do gancho de Schumi, largava em terceiro, com Coulthard escoltando em quarto.

Barrichello, esperança brasileira, largaria em 16o; Christian Fittipaldi, em 19o. Ambos foram batidos pelos companheiros de equipe, Irvine e Morbidelli.

Esperança rossa
Os dez primeiros seriam ALE-BER-HIL-HER-COU-PAN-HAK-DCE-IRV-VER

Logo na largada, muita encrenca e confusão: Irvine freou insanamente tarde e acertou a traseira de Herbert, complicando também a vida de Coulthard, Panis e Barrichello. Bandeira vermelha, para desespero das Ferraris, que haviam arrancado com primor. O irlandês iria relargar em último, enquanto Herbert teria que fazer o procedimento nos boxes. Basicamente, Eddie acabou com a única chance real da Lotus de pontuar em 1994 logo na primeira curva do GP. Paciência.

Na segunda largada, alguma normalidade: Alesi e Berger mantiveram a ponta com Hill, Coulthard, Häkkinen e Katayama logo atrás. Barrichello foi muito bem e assumiu a 9a posição, assim como Fittipaldi, 13o. Morbidelli bateu sozinho na Curva Grande.

Curiosamente, dois furos de pneus marcaram as voltas seguintes. Zanardi e Verstappen foram atingidos na reta oposta. Diz a lenda que, durante a madrugada, algumas pessoas meio alteradas jogaram garrafas de vidro para dentro da pista, justamente no trecho em questão. O asfalto foi varrido, mas não tinha como ficar 100% limpo. Felizmente, ninguém mais foi afetado. E vocês reclamando da Pirelli...

Na ponta, Alesi faz a corrida da sua vida. Vai abrindo vantagem sobre Berger, se encaminhando para uma estratégia de dois pits. A Tyrrell teve a mesma ideia para seus pilotos, Katayama e Blundell, que voam em solo italiano. O motor Yamaha rendia bem em pistas de alta velocidade, mas acabava consumindo muito combustível. Não era o maior dos problemas, já que Ukyo não enfrentou problemas para passar a McLaren de Häkkinen. Foi algo tão surpreendente que levou Galvão a dizer que o japonês era a "revelação do ano". Mais atrás, seu companheiro vinha escalando o grid, buscando pontos. Todavia, pit-stops lentos jogariam a dupla para trás.

Na 14a volta, Alesi entra nos boxes com 10s de vantagem sobre Berger. O pitstop, rápido, foi o último momento do francês na corrida: um problema na embreagem impediu Jean de voltar à pista. O sonho da primeira ficava pelo caminho e só seria realizado um ano depois. Gerhard, novo líder, vinha com Hill e Coulthard no cangote. O austríaco aumenta o ritmo imediatamente e tenta garantir que o troféu não saia da Península Itálica.

O brasileiros vão fazendo, pouco a pouco, um progresso considerável. Os abandonos, constantes, vão levando a dupla para a frente. Na volta 22, Barrichello já é quinto, enquanto Fittipaldi é 7o.

Então os pit-stops começam com tudo. O primeiro foi Berger, atrapalhado por Panis, retardatário, que ia em direção ao box da Ligier. O tempo perdido cobraria um preço alto. Hill entrou na volta seguinte e voltou à frente do veterano. Não parou aí: Coulthard, que vinha atrás dos dois, fez uma parada ainda mais rápida e voltou na frente de Damon e Gerhard. O escocês passou a ser, na prática, o líder do GP!

Na volta 28, a ordem era COU-HIL-BER-HAK-KAT(!!!)-BAR

Surpresa do dia
A felicidade de Coulthard não duraria muito, todavia. Frank Williams deve ter mandado alguma mensagem pelo rádio e Hill assumiu a ponta sem maiores resistências do escocês. Mais atrás, as Tyrrells davam uma festa a parte: Katayama ultrapassava Häkkinen pela segunda vez no mesmo dia, enquanto Blundell passava Barrichello e entrava na zona de pontuação. Para a dupla, passava a ser uma questão de andar o mais rápido possível e fazer valer a estratégia de dois pits.

Só que andaram muito rápido. Blundell rodou sozinho, passeou na brita, mas conseguiu voltar. O carro, porém, já não era mais o mesmo e o destino foi o abandono. Não muitas voltas depois foi a vez de Katayama, que ficou sem freios na Lesmo e encontrou a barreira de pneus. Um dia decepcionante para Ken Tyrrell, que via sua outrora gloriosa equipe agonizando em dívidas e decadência.

Assim, na volta 46 as posições eram HIL-COU-BER-HAK-BAR-BRU. Os dois primeiros vinham colados, enquanto Berger apresentava um ritmo forte para tentar garantir alguma alegria para os Tifosi.

As últimas voltas foram cruéis, em termos de abandonos. Christian Fittipaldi, após uma corrida sólida, parou com problemas no motor. David Brabham e Olivier Panis enfrentaram destino parecido. Mas com Coulthard foi trágico.

O escocês vinha fazendo todos os esforços para acompanhar Hill, talvez impressionando a equipe que tinha decidido colocar Mansell no volante do FW16 para o fim do campeonato. Mas passou dos limites: na Parabólica, última curva da última volta, uma pane seca jogou no lixo a fácil dobradinha. Acabou sobrando um decepcionante 6o lugar. Se é pra fazer isso, pelo menos Nigel anda mais rápido e é mais divertido.

A corrida acabou com HIL-BER-HAK-BAR-BRU-COU.

Era o começo da reação de Damon Hill que, beneficiado pelos problemas judiciários da Benetton e Schumacher, dava contornos de realidade a um título que sempre soou surreal. Na corrida seguinte, em Portugal, a ausência de Michael seguiria. O inglês repetiria o feito de Monza. Foi um fim de campeonato dos mais encarniçados de todos - infelizmente, às penas de uma punição ridiculamente exagerada ao alemão.

Não foi um ano tão ruim assim...
O fim, todos conhecem. Schumacher jogou o carro contra Hill e abrir caminho para os outros seis títulos. Começava a fama de Dick Vigarista, da qual nunca se livraria. A Williams voltava a incomodar após os meses de luto pela morte de Senna, mas seria em vão. A arrancada só daria resultados em 1996.

Nenhum comentário:

Postar um comentário